Algo que tem me incomodado profundamente é ver a (falta de) governança nas organizações não governamentais cristãs que têm (em tese) por objetivo promover o bem público de alguma forma. Falo de creches, asilos, entidades de desenvolvimento, entre outras, que são direta ou indiretamente ligadas a igrejas.
Por um lado, há organizações cujos líderes são servos e sérios, e que não desenvolvem sua governança simplesmente por falta de visão ou por que não foram devidamente exortados dessa necessidade, o que é muito comum, e demonstra a necessidade de uma espécie de “discipulado” constante não somente de “CPF’S” mas também de “CNPJ’S”.
Por outro lado, há a criação de organizações que deveriam obedecer à lógica de ter pessoas contribuindo para o alcance dos objetivos sociais, mas muitas vezes, existem para servir como plataforma para pessoas alcançarem seus objetivos pessoais.
Nesses casos, mesmo constando nos estatutos ou no discurso dessas organizações, que se tratam de entidades privadas sem fins lucrativos, com finalidade pública, na verdade esse não é exatamente o reflexo fiel do que acontece na prática. Tratam-se de organizações privadas, que podem até ter boas intenções e ter objeto social nobre, mas tem finalidade de lucro. Não são entidades sociais (no sentido de serem da sociedade civil).
Isso é facilmente observado quando observamos a falta de transparência; a falta de profissionalização; os argumentos teológicos oportunistas (por se tratar de “ministério”); práticas ilegais nas relações fiscais, trabalhistas; nepotismo, entre outros sinais.
É uma pena porque, como sempre, as organizações cristãs deveriam ser exemplo e dar testemunho de excelência. Essas organizações deveriam ser íntegras, agindo o tempo todo como se uma câmera estivesse filmando cada decisão, cada estratégia, cada recurso. Essa câmera é uma boa governança!
Nessas organizações, fica muito claro que o verdadeiro “dono” não é a sociedade civil, nem Deus, mas sim os idealizadores, fundadores, diretores. Por essa razão a “governança” dessas organizações é mentirosa. Os diretores normalmente não dirigem, mas apenas emprestam os nomes; às vezes sequer sabem o que ocorre nas organizações.
Normalmente, esses voluntários que emprestam seus nomes para que conste nas atas são pessoas com excelentes motivações, mas que inconscientemente ajudam a manutenção de projetos pessoais não sustentáveis. É fácil doar tempo, dinheiro, nome e credibilidade de maneira irresponsável e negligente.
Sem uma governança verdadeira e real não há sustentabilidade, não há controle da missão, não há finalidade realmente pública, não há fiscalização adequada e, por conseguinte, não há transparência!
O tempo está chegando, e muito rápido (espero eu), em que grandes e pequenos financiadores, parceiros e até os beneficiários (todos os stakeholders) passarão a avaliar as organizações olhando para a governança, como ocorre no mercado corporativo, o que implicará na obrigação de todas as organizações investirem intencionalmente e prioritariamente na transparência, legalidade, equidade e sustentabilidade.
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